6 de agosto de 2019

De volta em mim, encontro de novo aquele lugar no silêncio sempre pronto para acolher-me sem nada querer saber do passado que já perdeu o rasto do meu pensamento. Já me desprendi, a galopar em direção àquele horizonte que como íman, atrai-me e chama por mim. E lá vou eu, reencontrado, livre de novo e solto das memórias que nunca se encontram com o futuro que quero para mim. Sonhos aparte, a minha viagem começa aqui, neste passo que estou a dar. Um pé de cada vez, numa caminhada longa e plena de sensações nunca antes vividas. É a viagem que faz o viajante. O caminho que recebe o caminhante que nele se aventura de corpo e alma, entregue às suas paisagens que revelam-se à medida que se vai fazendo o que ele, o caminho, pede. Nele encontro-me e abraço a doce ausência de peso. Só liberdade. Sou liberdade. Sou espaço por ele proporcionado. Sou eu em mim. Sou ele. Sou o meu caminho.
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(Denis Getman)

6 de maio de 2018

Não precisamos de ser todos iguais,
porque o que é semelhante aborrece, o que é diferente enriquece.
Não precisamos de ser diferentes só porque sim,
alienados, afastados, isolados.
Tão pouco precisamos de ser indiferentes a tudo,
atentos apenas ao nosso mundo,
fechados sobre o próprio e cego desejo de ser, de prevalecer, de convencer.
Não precisamos de verdades incontestáveis,
de leis intocáveis,
de crenças cegas,
de roupas brancas,
de caras lavadas.
Afinal somos todos somente e apenas humanos.
Celebramos a nossa fragilidade.
Brindamos à impermutável inconstância das ideias.
À nossa paixão de explorar as margens
do vasto mar das incertezas!
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(Denis Getman)

13 de abril de 2018

Tudo o que foi dito e escrito até agora é apenas a ponta do iceberg. Desprotegida, aberta a todos os ventos e ao implacável impacto dos elementos- à corrosiva incidência da realidade sem qualquer emoção nem sentimento. 
Tudo o que foi mostrado até agora é apenas uma ínfima parte de tudo que para sempre estará subentendido e permanecerá adormecido nas entranhas do mais denso silêncio que guarda todos os segredos. Os mais preciosos pedaços de um todo solitário, discreto e eremita. Para sempre ausente e banido da luz da razão. Será apenas uma pegada nas velhas memórias dos sonhos por esculpir e dos desejos por realizar.
Tudo o que foi dito até agora já foi pensado antes de começar a ser despedaçado pelas amargas experiências de um passado sempre presente.. Distante mas tão à flor da pele, quase cortante.. E tudo sangra para dentro de um vazio que absorve as energias e deixa a respiração quase sem profundidade. Como naquele momento quando tudo deixou de existir, por um momento, mas tão eterno que nem a breve alegria o consegue apagar do semblante daquela noite mais indesejada. Vestida com sal das pesadas lágrimas que aligeiravam a dor e entorpeciam o pensamento. Cicatrizavam por instante a ferida que expunha o delicado desejo de seguir em frente.
Tudo o que foi lido até agora é só um degrau, o primeiro de muitos, que vais precisar de subir até conseguires dar um gole de alegria pura. Revigorante. Desintoxicante para qualquer melancolia que ainda cristaliza o teu olhar naquele ponto quase invisível do horizonte..
Porque nada é tão próximo do qualquer fim como um novo início, ainda por pensar, por descobrir e por viver..
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(Denis Getman)


2 de abril de 2018

Coragem? É ser fiel à sua própria essência. Projetos de futuro? É não desperdicar momentos do presente. Coleccionar pequenas alegrias e grandes amigos. Descartar tristezas que sugam energias e amargam o sorriso. Ser fiel? Sempre. Mesmo quando a inflexibilidade pareça a única solução para um ego que não deixa espaço para nada mais. Como o sei? Não sei, mas acredito, porque o coração pede quando o silêncio estende o seu manto sobre o ruído do pensamento. E lá vou eu, sem uma única certeza mas com uma mão cheia de fé no amor, na amizade e no discernimento. Devagar a divagar para mim mesmo e a transbordar fronteiras de mim mesmo. E as consequências? Claro que sim, amigos meus, sem elas nem valia a pena dar um passo, fosse qual fosse a direção.
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(Denis Getman)

17 de fevereiro de 2018

Nem todo o regressado da guerra é regressado à paz. Embora não se negam um a outro, amiude preferem viver cada um no seu canto.. meias paredes com a própria sombra que sorrateiramente escapa da luz e mergulha na solidão do seu ser impenetrável. E como todo o regressado da guerra, este ser, coberto de crosta da realidade, procura abrigo do outro lado onde possa cozer as velas e soprar-lhes um pulmão cheio de sonhos.. E esses últimos, quando diluídos nas roucas vozes das tempestades, sabem sempre a sal e a mar amargo. Tempero santo para adocicados paladares.
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(Denis Getman)


23 de janeiro de 2018



Por tudo que ainda não sei, quero errar. Vezes sem conta até chegar aos meus tesouros e os resgatar da ignorância da sabedoria e da arrogância do conhecimento. Quero simplesmente errar sem ter noção da vergonha de ser humilhado pelos que dizem mais saber que aqueles que realmente fazem e cultivam a arte de fazer. Não importa o quão difícil e sinuoso seja o caminho, o objetivo perpetua a ação e a vontade de criar supera a inércia do conforto. Não há certezas sem o saber como não existe sabedoria sem acção. Por isso mesmo que não vamos deixar de errar só porque é mais confortável. Por isso mesmo que não nos vamos conformar só porque é mais seguro. Vamos fazer, errar, refazer até tirarmos o prazer da tal imperfeição.
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(Denis Getman)

16 de novembro de 2017

Pedi-lhe para levar-me aos quatro cantos do mundo. Do mundo meu no qual dissipei-me, perdido para mim mesmo. Mundo onde as obras das minhas vontades loucas nunca se completam, pois nada é incompleto, nada é inacabado, nem a solidão: a indivisível, una e sempre sóbria. Pois nada é incompleto na última passagem através do tempo que molda as incertezas e as eleva aos mais sagrados céus da nossa verdade. E nesses quatro cantos encontrei os meus pedaços. De mim as minhas partes, para que num último e coletivo abraço, encontrasse a alegria de sentir que nada é perdido para sempre enquanto a esperança nutrir o corpo e o atirar ao seu caminho.
Das coisas que falei com ela, não muito trago na memória, pois leve caminhei quando passei no último portal da minha anterior existência. E leve caminhei ao encontro do meu fogo. Foi ele que me recebeu e acariciou e me lambeu as feridas, e me tornou tão puro, tão desprovido de quaisquer sentidos. E no âmago do momento quando o meu último respiro deixou a minha alma... lá implantou a última palavra que ficou..
..amo-te!
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(Denis Getman)